O ônibus parte às 18h16. A hora é precisamente marcada. Diferentemente da morte, incerta e a única certeza da vida, a separação dos amantes pela distância da viagem intensifica os últimos instantes junto à pessoa amada.
Casais apaixonados tentando fazer durar o momento de completude perante o outro, se desfazem e agonizam de saudade. Talvez o amor vá embora e retorne da viagem ou nunca mais volte. Acontece que, quanto mais próximo da hora da separação, mais juntos ficam os corpos e a vontade é permanecer. A civilização impõe a ordem do tempo e amor na rodoviária obedece ao relógio: “no mundo existe hora para tudo”.
Em meio à multidão, há ainda o casal que não se separa e segue junto, mas nem tão juntos estão — talvez pelo tipo de relação, talvez não. Mas, é a separação que mostra como amor constrói a civilização e de onde nasce a angústia: ele é a vontade de não ser sozinho, de estar com os outros.
###
Essa postagem relata uma das saídas fotográficas realizadas em função de meu Trabalho de Conclusão de Curso, compondo um diário de bordo da busca pelo conhecimento do amor da poesia "A angústia de João", de Menotti Del Picchia, por meio da fotografia.